1. |
Sem Passaporte
03:00
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Se você pensa que o samba é só alegria
Pergunte a quem faz samba todo dia
O samba navega num mar de agonia
Flutua num barco de hipocrisia
Martinho da Vila mora no Leblon
Zeca Baleiro só come bombom
O Dudu Nobre nos passou um calote
Samba Sem Fronteiras não tem passaporte
Nelson Sargento não vai ao quartel
E o Cartola nunca usou chapéu
Não é flor que se cheire a Rosa de Noel
Demônios da Garoa querem ir pro céu
Nelson Cavaquinho toca na viola
Paulinho da Viola toca cavaquinho
Carlos Cachaça toma Coca-Cola
E o rei do samba é o Zeca Pagodinho
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2. |
Barracão Gourmet
03:07
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Cadê a voz com a garganta seca
Que abria o peito por não se conformar
E batucava na mesa, bebia a pura beleza
Tirando o peso da alma de bar em bar
Vestida com o semblante da vida
Sem camisa colorida, queria só desabafar
Um samba cheio de sinceridade
Jovens com o peso da idade
Cantando a luta de viver sem ter lugar
A batucada já não incomoda
Passo de bamba agora está na moda
Malandro de apartamento tirou férias no terreiro
E trouxe um vaso com a raiz do samba
Pra pôr do lado da TV, estilo favela pop
Periferia em bairro nobre
Meu barracão gourmet
Aonde anda aquele samba duro
Que pulava o muro só pra vadiar
Aquele velho poeta que puxava a caneta
E escrevia em qualquer lugar
Aquele bom violão, que nunca tinha um tostão
Mas aprendia só de escutar
Naquele telecoteco que animava o boteco
E até o dono queria sambar
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3. |
Cozinha
02:17
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Bora pra cozinha vamos cozinhar
Traz a cachacinha pra nos temperar
Chega bem pertinho se quer conversar
Fala bem baixinho se vai fofocar
Prova um bocadinho já tá quase pronto
Só mais um pouquinho deixa engrossar
Ai, aumenta o som que essa eu quero dançar
Serve mais um copo pra gente brindar
Olho na panela não deixa queimar
Que o bicho tá solto
Coração no fogo
Cheguei no endereço, não sei se é aqui
Cadê meu amigo que disse pra eu vir?
Tá quase chovendo, ninguém vai descer
Qual apartamento? Não sei qual bater
Dá pra ouvir o som, deve ser ali
E se eu der um grito pedindo pra abrir?
Mas o que é que eu digo? Não conheço ninguém
Já faz meia hora e o cara não vem
Acendeu a luz, vem alguém aí
Vou na cara dura pedir pra subir
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4. |
Estrangeiro
04:48
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Me deito e não posso dormir
Faz silêncio na rua lá fora
Tenho medo de perder a hora de partir
Alguém aqui nesse lugar
Compreende o olhar de quem deixa pra trás
Será que assim que se faz
Quando não se pretende voltar
Fecho a janela do quarto
E guardo a escova de dentes
Sinto o caminho à frente abrir-se
E não sei até onde ele vai
Dou um abraço em meu pai
Sem saber quando o vejo outra vez
Prometo não vai demorar
E sussurro baixinho
“Talvez”
Ouço alguém chamar meu sobrenome
Ouço as moças de uniforme
Me tratarem por senhor
Vou atrás na fila pra voar
Vou sem pressa cumprir a promessa
Já não posso voltar
Adeus, minha cidade, adeus
Já não te vejo mais aqui de dentro
Enquanto luto pra encontrar o meu assento
E tento a todo custo adormecer
Para só despertar
Quando a máquina descer
Passo do outono à primavera em poucas horas
Cruzo um oceano que transborda de memórias
E ouço os desgarrados como eu do seu rebanho
Tentando ser feliz em uma terra de estranhos
Somos o pedaço mal contado da história
Sempre recebidos de maneira provisória
Chegamos mas nossa viagem não termina ainda
Interrogado, fichado, revistado, eis as suas boas vindas
Falta muito pouco, agora é só ter paciência
Que esse povo se deixa levar pela aparência
Foi só a primeira, logo vou me acostumar
É uma vida inteira aprendendo a apanhar
Clandestino, refugiado, fugitivo sem plano
Imigrante, exilado, peregrino, cigano
Nômade, ilegal, exótico, gringo, forasteiro
Desterrado, vagabundo, pária, meteco, estrangeiro.
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5. |
Revoada
03:10
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Vol d’un oiseau
Sans escale
Sans hublot
Pousa lá
E decola além
Plonge et tombe en l'air pour grimper plus haut
Beija a cal da pista e arremete a quem le...
Vol de l’oiseau
Sans bagages
Pas à l’heure
Vai longe
Aller oú
Revoada adieux
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6. |
A Cigarra e a Formiga
02:31
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Era uma vez a Cigarra e a Formiga
No happy hour da floresta
A Cigarra pede um gin
A Formiga um café (sem açúcar)
Conta que anda sem tempo, cansada
De tanto trabalhar, que dó!
Depois de ouvir o maior desabafo
Diz a Cigarra: “Minha amiga, olha eu aqui
Tanto já cantei o amor…
Mas o direito de autor tá um horror
E o aluguel me custa um rim!
Sempre achei que algum dia eu iria explodir
Mas hoje o cachet nem dá pro gin”
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7. |
Guri
01:24
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O Guri não levanta peso
Seu Doutor mandou descansar
Ele deixa o peso com os moço teso
Pras suas costas não aleijar
O Guri já não como carne
Com preguiça de mastigar
Também a banana e até o alho
Que dá trabalho pra descascar
Se de manhã cedo der uma vontade
De ir trabalhar
Ele fica deitado na cama
Só esperando a vontade passar
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8. |
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Eu nem pergunto de onde o senhor me conhece
Pois nem sei se lhe apetece aquilo que vou lhe dizer
Não sou esteira pro senhor ficar espalhado
Tome melhor seu cuidado, ninguém é brinquedo seu
Se as minhas carnes lhe causaram algum agrado
Fique aí bem desse lado, não se atreva a se exceder
Tenha respeito pelo que não lhe foi dado
Pois se não foi é roubado, e ladrão não morre bem
Se a polícia chegar, nem é preciso algemar
Porque juízo não se pode enfiar em ninguém
Nem pau, nem pedra, bota vergonha na cara dura
De quem não vale o que tem
Se a polícia chegar, nem é preciso algemar
Porque juízo não se pode enfiar em ninguém
Então se manda que a tua mulher tá em casa
Afiando a louça para te jantar também
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9. |
Baile do Peru
03:03
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Simbora nega, balançar só eu e tu
Lá no Baile do Peru
Lá no Baile do Peru
Lá não dá problema, é um samba tranquilo
Só tem alegria
Não vai muita gente porque geralmente
A bebida tá quente e a comida tá fria
A pista de dança vazia é tão grande
Minhas pernas até dão um nó
Com a roda de samba tocando forró
Vem aqui que eu vou lhe apresentar
O Peru comandante da Galeria
Servindo as mesas, fazendo o som
E cobrando bilhete lá na portaria
Ainda por cima é DJ, esse homem não cansa
E se der confusão ele compra a briga
Como segurança
O samba rola de segunda a domingo
Depois da missa, antes do bingo
Se chegar bem cedo entra sem pagar
Que o Peru tá dormindo, não vai se importar
O ambiente é seleto, eu já reparei
Vão sempre os mesmos, não vai mais ninguém
Nesses anos todos nunca perguntei
Quanto custa a cerveja, nunca paguei
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